A presidente do Banco do Brasil expressa desculpas pelo papel da instituição durante o período da escravidão.
O banco anunciou uma série de medidas para combater o racismo estrutural após a abertura de um inquérito pelo Ministério Público Federal, investigando o envolvimento do banco na escravidão e tráfico de africanos cativos durante o século 19, detalhes revelados pela BBC News Brasil.
Assim, Tarciana Medeiros, a primeira mulher negra a liderar o BB desde sua fundação em 1808, afirma que ‘o Banco do Brasil atual pede perdão ao povo negro pelas ações de suas versões passadas e está empenhado em enfrentar o racismo estrutural no país’.
Ela complementa: ‘O BB está comprometido em aprofundar seu entendimento sobre a história de suas versões anteriores. No entanto, o fato de ser uma instituição atual nos motiva a realizar ações voluntárias com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial e buscar justiça social em uma sociedade que carrega marcas da escravidão, mesmo que não haja conexões diretas com atividades de suas versões passadas e os escravizadores do século 19‘, acrescenta Medeiros.
O banco revelou planos para promover a inclusão racial tais como:
- incluir cláusulas de diversidade em contratos com fornecedores,
- parcerias para encaminhar jovens do programa Menor Aprendiz para o mercado de trabalho,
- workshops sobre diversidade, equidade e inclusão,
- apoio a iniciativas de mulheres negras, e
- um programa para desenvolvimento de carreira de funcionários pretos e pardos.
Ministério Público Federal pede retratação
Quatorze historiadores de 11 universidades iniciaram o inquérito do Ministério Público Federal. Para isso, eles pesquisaram a relação do Banco do Brasil com a economia escravista. Então, eles descobriram que entre os fundadores e acionistas do BB estavam alguns dos mais notórios traficantes de escravizados da época. Como José Bernardino de Sá, por exemplo, considerado o maior contrabandista de africanos do período.
Nesse sentido, a escravidão é considerada um crime contra a humanidade, sem prescrição, permitindo ações judiciais relacionadas ao período. O Banco do Brasil também emitiu uma carta aberta aos movimentos negros, lida em audiência pública no Rio de Janeiro.
‘O impacto de um passado histórico cruel sobre as comunidades negras e seus descendentes ainda espera por medidas estruturais de todas as esferas sociais para transformar este cenário’, afirma o documento.
Clemente Penna, pesquisador da UFSC, menciona que o sistema financeiro da época era dependente da escravidão. Mas ressalta a necessidade de mais pesquisas para determinar o papel de cada instituição.
‘Era uma economia com pouca circulação de moeda oficial. O sistema era baseado em títulos de crédito, hipotecas, letras de câmbio… Os traficantes eram os que possuíam mais capital, financiando o Estado, títulos da dívida e capital dos bancos’, explica. O Banco do Brasil também concedeu empréstimos a fazendeiros donos de escravizados.
De acordo com a tese de doutorado de Thiago Campos Pessoa, da UFF, o banco emprestou 800 contos de réis para os Irmãos Breves, José e Joaquim de Souza Breves, em 1871.
A pesquisa destaca que, além de serem acionistas e terem membros na diretoria do BB, a família Breves era uma das maiores proprietárias de escravizados do país. Com cerca de 5 mil pessoas em suas fazendas no Rio e São Paulo.