Através da análise das mutações genéticas presentes nos piolhos, os cientistas desvendam pistas sobre os percursos migratórios da humanidade ao longo de sua história global.
Os piolhos não se limitam a ser apenas uma inconveniência para os seres humanos, provocando coceira no couro cabeludo. Na verdade, esses parasitas sugadores de sangue evoluíram ao longo de milênios, acompanhando a trajetória da humanidade em suas jornadas pelo mundo.
Considerados os parasitas mais antigos a se alimentarem do sangue humano, os piolhos oferecem insights valiosos sobre nossa própria espécie e seus padrões migratórios.
Segundo um estudo recente, publicado em 8 de novembro na revista PLOS ONE, os piolhos provavelmente chegaram à América do Norte em duas ondas migratórias distintas.
- A primeira ocorreu há aproximadamente 16.000 anos, quando alguns humanos cruzaram uma ponte terrestre que conectava a Ásia ao atual Alasca, no final da última era glacial.
- A segunda onda coincidiu com a colonização europeia.
“De certa forma, os piolhos são como fósseis vivos que carregamos em nossas cabeças”.
Marina Ascunce, bióloga evolucionista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Assim, estes parasitas sem asas que passam a vida toda no hospedeiro, coevoluíram com os humanos ao longo de milênios.
O estudo revelou que os piolhos fornecem uma visão única dos movimentos humanos, agindo como testemunhas genéticas de eventos históricos.
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Uma equipe de cientistas dos Estados Unidos, México e Argentina conduziu a análise da variação genética em 274 piolhos coletados em 25 locais ao redor do mundo.
Então, os resultados revelaram aglomerados genéticos distintos, indicando padrões de migração.
Tal abordagem permitiu identificar a chegada dos piolhos à América do Norte em diferentes momentos. Logo, associando-os tanto à migração humana da Ásia quanto à colonização europeia após a chegada de Cristóvão Colombo no final do século XV.
“Os piolhos da América Central abrigavam a origem asiática associada à fundação das Américas, enquanto os piolhos da América do Sul tinham marcas da chegada da Europa”, diz Ariel Toloza, coautor do estudo e toxicologista de insetos do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnica (CONICET) na Argentina.
O estudo não apenas preencheu lacunas evolutivas dos piolhos, mas também sequenciou o genoma completo desses parasitas para futuras pesquisas.
Além disso, melhorias tecnológicas possibilitam agora a análise do DNA antigo de piolhos encontrados em múmias ou em pentes antigos.
Em suma, este estudo destaca a importância de olhar para além das percepções convencionais sobre animais considerados incômodos, como os piolhos, e reconhecer o papel fundamental que desempenham na compreensão da história humana e ambiental.
Como destaca David L. Reed, geneticista de mamíferos da Universidade da Flórida, ‘seja curioso e descubra as histórias que os animais mais humildes podem ter para contar.’
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