Satélite europeu histórico cai no oceano Pacífico, entre o Alasca e o Havaí

O ERS-2, um satélite espacial europeu que foi pioneiro na observação da Terra, passou por processo de desativação

Um satélite europeu pioneiro caiu na Terra na tarde desta quarta-feira (21/02).

O ERS-2 era uma plataforma de observação com tecnologia de ponta quando foi lançado em 1995. E ajudou a forjar tecnologias que agora utilizamos rotineiramente para monitorar o planeta.

A atividade do aparelho diminuiu gradualmente desde o encerramento das operações dele, em 2011.

Na quarta, o aparato sofreu um “mergulho” descontrolado e violento na atmosfera durante a quarta-feira (21/2).

Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), completou sua reentrada atmosférica sobre o Oceano Pacífico Norte, entre o Alaska e o Havaí. Sem relato de nenhum dano durante a queda.

A ESA já havia previsto que a maior parte do satélite de duas toneladas iria queimar e se desfazer durante a descida.

De fato, algumas peças maiores e robustas podem suportar o intenso aquecimento gerado durante a queda em alta velocidade. Mas as chances desses fragmentos atingirem áreas povoadas e causarem danos são mínimas, segundo os especialistas.

Assim, esses pedaços de satélite poderiam pousar em quase qualquer lugar do mundo. Mas, com a maior parte da superfície terrestre coberta pelo oceano, já se sabia que os detritos provavelmente seriam perdidos no mar.

“E vale a pena destacar que nenhum dos elementos que podem entrar na atmosfera (e atingir a superfície) é radioativo ou tóxico”, afirmou o cientista Mirko Albani, do Departamento de Observação da Terra da ESA.

A ESA lançou dois satélites de sensoriamento remoto da Terra — conhecidos pela sigla ERS — quase idênticos na década de 1990.
A temperatura da superfície do mar: a monitorização climática atual tem uma 'dívida' com o programa que lançou os satélites ERS. (Imagem: ESA)
A temperatura da superfície do mar: a monitorização climática atual tem uma ‘dívida’ com o programa que lançou os satélites ERS. (Imagem: ESA)

Ambos faziam as observações planetárias mais sofisticadas da época e carregavam um conjunto de instrumentos para acompanhar as mudanças que ocorriam na terra, nos oceanos e no ar.

Os aparelhos monitoraram inundações, mediram as temperaturas continentais e da superfície oceânica, rastrearam o movimento dos campos de gelo e observaram a deformação do solo durante os terremotos.

O ERS-2, especificamente, introduziu uma nova possibilidade de avaliar a camada de ozônio que protege a Terra.

A dupla de satélites foi descrita como os “avôs da observação da Terra na Europa”.

“Em termos de tecnologia, é possível traçar uma linha direta desde o ERS até aos satélites europeus Copernicus/Sentinel que monitoram o planeta hoje”, diz Ralph Cordey, gestor de Desenvolvimento do Setor de Observação da Terra da Airbus.

“O ERS foi onde tudo começou”, complementou ele.

O ERS-2 é o primeiro da dupla a voltar para casa. Ele ficava originalmente a 780 km acima da Terra. E então, os engenheiros usaram as reservas finais de combustível em 2011 para reduzir a altitude dele para 570 km.

A expectativa era que a camada superior da atmosfera arrastasse a espaçonave até a destruição em cerca de 15 anos.

Segundo os cientistas, é exatamente isso que aconteceu nesta quarta, 13 anos após a redução da altitude.

Antes da reentrada na atmosfera, os cientistas não podiam determinar precisamente quando e onde ele cairia. Já que isso varia conforme a densidade da alta atmosfera, que por sua vez sofre influência da atividade solar.

A empresa alemã Dornier (agora parte da Airbus) liderou a montagem dos satélites ERS. (Airbus/BBC News Brasil)
A empresa alemã Dornier (agora parte da Airbus) liderou a montagem dos satélites ERS. (Airbus/BBC News Brasil)
Mas já se calculava que pouco material do ERS-2 resistiria ao atrito e chegaria à superfície da Terra.

Segundo as previsões dos especialistas em detritos espaciais da ESA, os fragmentos que poderiam chegar à superfície incluiam painéis internos e algumas peças metálicas, como tanques de combustível.

O elemento com a maior probabilidade de atravessar a atmosfera de alguma forma era a antena do sistema de radar.

A antena possuía uma construção em fibra de carbono capaz de tolerar altas temperaturas.

Na época do lançamento do ERS-2, as diretrizes de mitigação sobre detritos espaciais eram muito mais flexíveis. A ideia de trazer para casa uma espaçonave 25 anos após o fim das operações era algo aceitável.

A nova Carta Zero Detritos da ESA recomenda que o período de carência para eliminação desses objetos não exceda cinco anos. E os futuros satélites serão lançados com o combustível necessário e a capacidade de saírem de órbita por meio da propulsão num curto espaço de tempo.

A razão é óbvia: com tantos satélites em órbita, o potencial de colisões aumentou consideravelmente.

O ERS-1, por exemplo, falhou repentinamente antes que os engenheiros pudessem diminuir a altitude dele.

Esse aparelho ainda está a mais de 700 km acima da Terra, e assim, nessa altura, pode levar 100 anos até que ele caia de forma natural.

A falha de Hayward na Califórnia: o ERS foi pioneiro no mapeamento do movimento das rochas. (ESA / BBC News Brasil)
A falha de Hayward na Califórnia: o ERS foi pioneiro no mapeamento do movimento das rochas. (ESA / BBC News Brasil)

A empresa americana SpaceX, que opera a maior parte dos satélites funcionais atualmente em órbita — são mais de 5,4 mil — anunciou recentemente que iria derrubar 100 deles após descobrir uma falha que “poderia aumentar a probabilidade de falhas no futuro”.

A companhia quer remover os objetos antes que qualquer problema torne a tarefa mais difícil.

Na semana passada, a Secure World Foundation, um grupo de defesa do uso sustentável do espaço, e a LeoLabs, uma empresa norte-americana que rastreia detritos espaciais, emitiram uma declaração urgente sobre a necessidade de remover aparelhos na órbita que não funcionam mais.

“O acúmulo de objetos abandonados na órbita baixa da Terra continua igual; 28% dos atuais objetos massivos de longa vida abandonados foram deixados em órbita desde a virada do século”, diz o texto.

“Esses aglomerados representam o maior potencial de geração de detritos para os milhares de satélites recentemente implantados que alimentam a economia espacial global”, conclui a declaração.

*Conteúdo originalmente criado por Jonathan Amos, correspondente de Ciência da BBC News.

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