“A teoria do macaco chapado”: Como psicodélicos podem ter beneficiado a evolução humana

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Teoria do Macaco Chapado é uma hipótese de um dos psiconautas mais influentes dos Estados Unidos, Terence McKenna.

Resumo: Aproximadamente 3 milhões de anos atrás, um fenômeno intrigante se iniciou durante a evolução dos hominídeos: a expansão repentina do tamanho do cérebro. Entre as explicações já propostas, está a teoria sugerida pelo etnobotânico Terence McKenna por exemplo: na qual um dos fatores envolvidos no “salto” no desenvolvimento do cérebro teria sido o consumo de cogumelos psicodélicos. Saiba mais sobre a “teoria do macaco chapado” em seguida.

Por volta de 3 milhões de anos atrás, um fenômeno intrigante se iniciou durante a evolução dos hominídeos: a expansão repentina do tamanho do cérebro. Este processo começou, aparentemente, com o Homo habilis, que possuía 700 cm3 de volume cerebral, cerca de 200 cm3 a mais em comparação a outros hominídeos contemporâneos.

Seguindo nessa linha do tempo, por volta de 1 milhão de anos atrás, um novo tipo de hominídeo passou a ser comum: o Homo erectus. Este, possuía volume cerebral variando entre 900 e 1000 cm3. Hoje, nós — Homo sapiens sapiens — possuímos em média 1500 cm3. Resumindo: em 3 milhões de anos, o tamanho do cérebro dos hominídeos triplicou de tamanho.

Paleoarqueologistas sugerem que este desenvolvimento cerebral permitiu aos hominídeos o desenvolvimento de novas habilidades e comportamentos essenciais à permanência no planeta Terra. Mas quais fatores podem ter contribuído para esse “salto” no desenvolvimento do cérebro?

Muitas respostas já foram elaboradas, envolvendo diversos fatores e combinações, tais quais bipedalismo, composição da dieta alimentar e mudanças climáticas. Ao passo que uma das teorias mais curiosas foi sugerida pelo pelo etnobotânico Terence McKenna: o consumo de cogumelos psicodélicos.

“A teoria do macaco chapado”

Há 3 milhões de anos, no mesmo período em que o fenômeno da expansão cerebral se iniciou, grandes mudanças climáticas ocorreram no planeta Terra. Tais mudanças teriam impulsionado os hominídeos a abandonar as florestas e habitar ambientes mais abertos como, por exemplo, as pastagens africanas.

Provavelmente, segundo Terence, a mudança para um novo ambiente forçou os hominídeos a diversificarem a alimentação e, dessa forma cogumelos psicodélicos teriam sido introduzidos na dieta. O consumo regular desses cogumelos pode ter se mostrado vantajoso conforme os hominídeos se espalharam por novos territórios.

Consumo de psicodélicos como vantagem competitiva

O consumo de cogumelos psicodélicos pode ter beneficiado a evolução dos hominídeos de maneiras diversas e profundas, e não simplesmente por os deixarem “chapados”. Abaixo, estão listados alguns pontos levantados na teoria de Terence, vejamos:

1. Aumento da capacidade de processamento

Terence acreditava que a introdução de alimentos psicodélicos na dieta dos hominídeos aumentou a atividade cerebral e a capacidade de processamento de informações, e assim contribuiu para a expansão do tamanho do cérebro.

2. Aumento da adaptabilidade

O consumo de psicodélicos é vantajoso, quando a questão é se adaptar a novos ambientes. Segundo Thomas Falk, professor de Filosofia e Educação na Universidade de Dayton, os psicodélicos despadronizam a mente e alteram os modos de percepção, estes efeitos propícios para a inovação e resolução de problemas.

3. Explosão criativa

A despadronização da mente e a alteração dos modos de percepção, somadas à caraterística de induzir sinestesia (cruzamento dos sentidos do corpo humano), podem ter permitido que os hominídeos criassem conexões entre sons, símbolos e significados, causando uma “explosão criativa”. Que assim, teria preparado o terreno para o surgimento da linguagem, manipulação de símbolos e comunicação.

4. Melhora da visão

O consumo de psilocibina, o componente psicodélico dos “cogumelos mágicos“, tem a propriedade de melhorar a acuidade visual. Este efeito portanto, segundo Terence, pode ter beneficiado os hominídeos na caça e coleta de alimentos.

5. Reprodução

A psilocibina tem a propriedade de estimular o pensamento e, quando tomada em doses um pouco maiores, pode provocar inquietação e excitação sexual. Assim, ao aumentar as oportunidades de cópula, os cogumelos psicodélicos poderiam ter favorecido a reprodução dos hominídeos.

6. Dissolução do ego

Frequentemente a dissolução do ego, ou redução na consciência de si, é um efeito relatado na experiência psicodélica. Segundo Terence, este efeito pode ter facilitado a criação de laços comunitários e as atividades sexuais em grupo, que promovem a mistura de genes, taxas de natalidade mais altas e um senso comum de responsabilidade pela prole gerada.

Dennis McKenna, irmão de Terence, fala sobre a “Teoria do macaco chapado” no documentário “Fungos fantásticos”.

“Colou”

“Teoria do macaco chapado” (“stoned ape theory”, em inglês) não foi um nome definido por Terence, mas sim um termo que popularmente “colou”, e passou a ser usado para fazer referência a esta ideia. Em entrevista à HowStuffWorks, o etnofarmacologista Dennis McKenna, irmão de Terence, chegou a comentar que este nome não representa a amplitude da teoria desenvolvida por seu irmão.

Na mesma ocasião, Dennis enfatizou que a “Teoria do macaco chapado” não deve ser considerada como o único fator envolvido no processo de evolução dos hominídeos. Isso porque: “Obviamente existiram múltiplos fatores envolvidos. É muito simplista apenas postular que eles comeram cogumelos, e então estavam melhor equipados. Muitos fatores influenciaram a evolução”, alertou o etnofarmacologista.

Referências

G. Philip Rightmire, 2020. “Homo habilis”. Encyclopedia Britannica. Link.

G. Philip Rightmire & Phillip Vallentine Tobias, 2020. “Homo erectus”. Encyclopedia Britannica. Link.

Haden A. Geiger, Madeline G. Wirst & R. Nathan Daniels, 2018. Dark classics in chemical neuroscience: Psilocybin. ACS Chemical Neuroscience.

Mathew M. Nour, Lisa Evans, David Nutt & Robin L. Carhart-Harris, 2016. Ego-dissolution and psychedelics: Validation of the ego-dissolution inventory (EDI). Frontiers in Human Neuroscience.

Robert Lamb, 2021. The stoned ape hypothesis: Did magic mushrooms influence human evolution? HowStuffWorks. Link.

Stephen C. Cunnane & Kathlyn M. Stewart, 2010. Human brain evolution: The influence of freshwater and marine food resources. Editora Wiley-Blackwell.

Terence McKenna, 1993. Food of the Gods: The Search for the Original Tree of Knowledge a Radical History of Plants, Drugs, and Human Evolution. Editora Bantam.

Escrito por: Lia Esumi via Ciência Psicodélica

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