Calor exacerba a desiguladade social no Brasil e afeta mais pretos, pardos, idosos e mulheres, aponta estudo da UFRJ
Um estudo da UFRJ apontou que, nos últimos 20 anos, o calor teve efeitos mais severos em populações específicas no Brasil.
Nesse sentido, entre 2000 e 2018, aproximadamente 48 mil mortes foram atribuídas a ondas de calor, um número superior às causadas por deslizamentos de terra no mesmo período.
Além de aumentarem em volume, os episódios de temperaturas extremas também estão cada vez mais prolongados.
“Os eventos de ondas de calor aumentaram em frequência e intensidade“, diz Monteiro dos Santos, da UFRJ.
Nas décadas de 1970 e 1980, esses eventos adversos duravam de três a cinco dias. Entre os anos de 2000 e 2010, aumentaram para duração entre quatro e seis dias.
A pesquisa teve como liderança o físico Djacinto Monteiro dos Santos e incluiu 12 pesquisadores de sete instituições brasileiras e portuguesas. Como por exemplo, a Universidade de Lisboa e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e está disponível oficialmente no periódico científico Plos One.
O aumento significativo nas ondas de calor, com o Brasil enfrentando entre 3 e 11 eventos anuais na última década, em comparação com no máximo três na década de 1970, tem causado impactos fatais.
Os grupos mais vulneráveis incluem idosos, mulheres, pardos, pretos e aqueles com menor nível de escolaridade.
A pesquisa destaca que as condições socioeconômicas precárias, especialmente nas áreas urbanas mais pobres, contribuem para a vulnerabilidade.
De fato, visto que, as pessoas mais pobres tem acesso limitado a recursos de adaptação, como condições de moradia corretas e assistência médica.
O estudo também revela que as ondas de calor não afetam de maneira uniforme, atingindo mais fortemente áreas com menor acesso a recursos.
“Os eventos climáticos extremos não são democráticos, eles atingem muito mais aqueles que não têm acesso a recursos de adaptação.”
“Situações socioeconômica precárias, que atingem as faixas mais pobres, levam a acesso também precário a condições de moradia, sistema de saúde e meios de prevenção.”
Djacinto Monteiro dos Santos.
Santos afirma que as condições urbanas também costumam fazer com que regiões mais pobres das cidades sejam mais vulneráveis.
“Quando a sensação térmica é de 45ºC na Zona Sul do Rio de Janeiro [onde estão bairros de famílias mais ricas], aí é de 58ºC em Bangu, na Zona Oeste [área mais pobre]”, exemplifica o pesquisador.
A análise dos mais de 9 milhões de registros de óbitos durante as ondas de calor levou os pesquisadores a concluir que as mortes foram causadas por:
- problemas circulatórios,
- doenças respiratórias
- e condições crônicas agravadas pelo calor.
O estudo, por fim, aponta para a necessidade urgente de medidas de prevenção, incluindo a implementação de sistemas de alerta de ondas de calor.
A fim de evitar o aumento contínuo das mortes relacionadas ao aumento da temperatura no país.
Via: BBC Brasil