Existe diferença entre querer e gostar?

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Neurocientistas pesquisam há décadas como o prazer começa no cérebro, quais são as bases do gostar e desejar e o que causa vícios e dependências.

Essas pesquisas permitiram entender melhor doenças como o mal de Parkinson, alguns tipos de esquizofrenia e a depressão.

Umas das descobertas científicas mais recentes e importantes sobre o prazer é a diferença que existe no cérebro entre gostar e desejar.

A sensação de prazer de qualquer experiência sempre começa no cérebro.

Algumas chaves abrem a porta do prazer, por exemplo o sabor doce, geralmente é prazeroso desde que nascemos.

Mas também criamos aprendizados sobre o prazer através das experiências.

Sendo possível criar uma aversão à situação, se por acaso esse doce causar náuseas ou algo fizer ele parecer repulsivo.

Do mesmo jeito, naturalmente o sabor amargo costuma ser pouco prazeroso, mas é possível aprender a gostar dele.

As pessoas literalmente aprendem a abrir as portas do prazer no cérebro.

Quanto do prazer é biológico e quanto é aprendido socialmente

O prazer sensorial se origina no cérebro. Certos pontos no cérebro produzem o prazer.

São algumas pequenas áreas do cérebro separadas que, quando interconectadas, agem como um grupo para ativar prazeres intensos.

Os pontos do cérebro que geram prazer utilizam neuroquímicos naturais, como opióides ou versões naturais da heroína ou da maconha, para estimular o cérebro e gerar esses intensos prazeres.

Para outros tipos de prazer, como o prazer de ver alguém de quem gostamos ou experimentar prazer com a arte ou escutando música, é diferente.

Cerca de 20 anos atrás, o cientistas pensavam que prazeres culturais aprendidos funcionavam como um sistema cerebral totalmente diferente, em comparação com os prazeres sensoriais.

Mas, com o tempo os estudos mostraram que os prazeres sensoriais e prazeres aprendidos culturalmente são produzidos nas mesmas zonas do cérebro.

Usando imagens neurológicas para medir a ativação de regiões do cérebro humano os pesquisadores viram que com diferentes tipos de prazer as mesmas zonas são ativadas.

diferença entre gostar e desejar ou querer segundo a ciência
Imagem: Brain Support

Prazer e conexões cerebrais

Ao bloquear os receptores de dopamina no cérebro de ratos com medicamentos, os pesquisadores descobriram que isso não diminuiu o prazer que eles experimentavam com o sabor doce.

Ou seja, o gosto deles pelo doce, mesmo bloqueando totalmente a dopamina, permaneceu presente.

Eles fazem experimentos com seres humanos há cerca de 20 anos, manipulando os níveis de dopamina no cérebro, observando o prazer e o desejo, e a diferença entre desejar e gostar.

Dependências e a diferença entre gostar e desejar ou querer

Até então pensava-se que o circuito cerebral de recompensa fosse o mesmo ao gostar ou desejar algo, mas eles podem ser separados.

Podemos dizer que sempre desejamos as coisas de que gostamos e gostamos das coisas que desejamos?

A resposta é não, nem sempre é assim.

diferença entre gostar e desejar ou querer segundo a ciência
Imagem: Brain Support

Como quando uma pessoa quer algo intensamente, mas não gosta daquilo.

Assim os cientistas propuseram algumas teorias para as dependências.

Por exemplo, alguns indivíduos tem sistemas cerebrais de dopamina que são vulneráveis à neurossensibilização.

Isso significa que eles se tornam hiper-reativos a determinadas drogas.

Essa hiper-reatividade aos sistemas de dopamina faz com que eles desejem intensamente certos estímulos, independentemente se gostam deles ou não.

Ao fazer experimentos com uso de cocaína ou com pacientes com mal de Parkinson descobriu-se que a dopamina está relacionada com querer algo, com o desejar, mais do que com o gostar.

Sobre depressão e a incapacidade de sentir prazer ou anedonia

A anedonia pode ser um sintoma de algumas formas de esquizofrenia ou depressão profunda.

Como ocorre com os pacientes com Parkinson, observa-se a falta de querer experimentar prazer, mas o prazer em si não desaparece.

Em muitos casos de esquizofrenia, não se trata da perda do prazer, mas da perda da motivação por querer essas coisas. O prazer, o gosto, aparentemente está intacto.

Já na depressão, pode-se perder as duas coisas: o desejo e o gosto.

Algumas pessoas tem mais necessidade de procurar sentir prazer do que outras

Os cientistas falam em escalas de impulsividade e reações de recompensa.

Algumas pessoas têm essa impulsividade na personalidade e é um fator de vulnerabilidade para desenvolver dependências.

Pois possuem um sistema cerebral que reage mais, sendo (hiper-reativos) aos sinais que ativam os sistemas de recompensa.

O que pode ser bom para encontrar motivação e prazer na vida, mas também pode levar a uma busca excessiva de prazer, de recompensas.

Então vemos que as dependências têm mais a ver com desejar do que com gostar.

Ou seja, as hiper-reações às substâncias que levam à dependência podem ser independentes de se gostar de tais substâncias ou de seus efeitos.

Neste sentido, uma descoberta muito relevante é: a dependência não é apenas a busca do prazer.

Costumamos pensar que os prazeres e os desejos andam sempre juntos.

E que se uma pessoa é um dependente é porque procura o prazer.

Porém, se compreendermos a essência das dependências, podemos entender que pode existir um nível intenso de desejo, um nível intenso de tentação, que o resto das pessoas não tem.

Portanto essas descobertas da neurociência podem ser aplicadas no campo da saúde mental ajudando as pessoas a compreender e cuidar melhor dessas questões.

Fonte: Brain Support

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