Felicidade e prazer – como ser feliz segundo a filosofia de Epicuro

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Epicuro criou uma espécie de ‘farmacopéia’ contra a infelicidade: “4 remédios” para alcançar a felicidade

Contextualizando o surgimento da filosofia de Epicuro

A doutrina de Epicuro surgiu em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-Estados gregas. A vida social na Pólis era leviana e marcada pela injustiça social.

O poder se concentrava nas mãos de poucos: a aristocracia urbana. Não havia felicidade entres os homens no contexto social, no qual as pessoas se interessavam estritamente pelas riquezas e pelo poder.

No contexto religioso, no qual predominava a superstição, a religião tornou-se servil, cercada de mitos e ritos sem significação e também crescia a procura por oráculos e a crença em adivinhações.

As pessoas gozavam dos prazeres mais supérfluos advindos das riquezas e, assim, eram relativamente felizes, pois estavam se esquecendo do que realmente proporciona a felicidade.

Foi a partir disso que Epicuro criou sua doutrina contra a superstição e os bens materiais, voltada para uma reflexão interior e busca da verdadeira felicidade.

Epicurismo uma filosofia prática

O epicurismo é, talvez, uma das maiores escolas filosóficas da época helênica, juntamente com os estoicos.

Epicuro de Samos, foi um filósofo grego hedonista, muitas vezes caluniado pela filosofia de influências platônicas e cristãs. O filósofo grego teve grande preocupação com a questão do prazer e isso gerou uma série de mal entendidos.

O filósofo do jardim, como ficou conhecido, teve os mais variados tipos de seguidores; isto porque Epicuro não se preocupava com a classe social, com a origem, ou com qualquer outro fator para compartilhar seus ensinamentos. Em seu jardim todos podiam entrar e procurar o caminho para o prazer e a felicidade.

A proposta hedonista é direta e simples, realista e prática.

Essa doutrina é dividida em canônica, física e ética.

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Os dois primeiros “remédios” se referem ao intelecto e têm efeito imediato, pois desfazem todas as superstições e medos irracionais que causam angústia nos homens, como a morte e a cólera dos deuses.

Os dois últimos remédios são éticos e tratam de um modo de vida com caráter preventivo para a dor e obtenção do prazer.

Assim, as duas primeiras partes são esclarecimentos para a fundamentação da ética, visto que as ciências naturais só são importantes na medida em que servem de auxílio à moral.

Nenhuma teoria é válida se não possuir um objetivo moral, o qual não possa ser aplicado na vida prática.

A finalidade da ética de Epicuro consiste em propiciar a felicidade aos homens, de modo que essa possa libertá-los das mazelas que os atormentam, quer advenham de circunstâncias políticas e sociais, quer sejam causadas por motivos religiosos.

A felicidade é fácil de alcançar

A Felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e dos desejos, de maneira que seja possível chegar à ataraxia, a qual representa um estado de prazer estável e equilíbrio e, consequentemente, a um estado de tranquilidade e a ausência de perturbações.

Pois, conforme Epicuro, há prazeres maus e violentos, decorrentes do vício e que são passageiros, provocando somente insatisfação e dor.

Mas também há prazeres decorrentes da busca moderada da Felicidade.

Segundo Epicuro, a posse de poucos bens materiais e a não obtenção de cargos públicos proporcionam uma vida feliz e repleta de tranquilidade interior, visto que essas coisas trazem variadas perturbações.

Por isso, as condições necessárias para a boa saúde da alma estão na humildade.

Então Epicuro nos apresenta a filosofia como a medicina que trata das perturbações da alma.

Seu ensinamento ético prescreve quatro remédios para esses males, os quais devemos manter sempre à disposição para aplicarmos sempre que necessário.

Sendo assim os 4 “remédios” ou tetrapharmakon para alcançar a felicidade, segundo Epicuro são:

  1. Não se deve temer os deuses; (para Epicuro, se os deuses existem eles não se ocupam de nós).
  2. Não se deve temer a morte; (quando morrermos nada mais sentiremos, ou será muito breve, pois em seguida estaremos mortos, logo não há porque temer a morte).
  3. O Bem não é difícil de se alcançar; (A ausência de dor e o prazer são possíveis até certos limites).
  4. Os males não são difíceis de suportar. (mesmo na doença a dor tem limite).

De acordo com as recomendações do filósofo é possível cultivar pensamentos positivos os quais capacitam a pessoa a ter uma vida filosófica baseada em uma ética.

Quartim de Moraes (2015: 70) observa que os remédios 1 e 2 dirigem-se ao intelecto e exercem efeito terapêutico imediato, já que (1) não há deuses que controlam o mundo, mas apenas existem átomos em entrechoques cegos que fazem acontecer o Universo e que (2) a morte é a mera separação dos átomos componentes do organismo.

Em contraste, os remédios 3 e 4 são propriamente éticos, ensinando como lidar com o prazer e a dor, entendendo suas naturezas e seus limites.

De acordo com o remédio 3, o prazer já existe se não há “dores corporais ou o sofrimento mental, juntos ou separados”.

Mais ainda, a filosofia pode ajudar a gerar prazeres capazes de contrabalançar e mesmo superar o sofrimento físico e mental atual.

A felicidade portanto não é difícil de se alcançar através de poucas coisas materiais em detrimento da busca do prazer voluptuoso.

O homem ao buscar o prazer procura a felicidade natural. Já que por exemplo, comer, beber e a ausência de dor física e mental para o filósofo é prazer. E se conseguimos satisfazer essas necessidades básicas de prazer isso nos faz feliz naturalmente.

No entanto é necessário saber escolher de modo que se evite os prazeres que causam maiores dores; quando o homem não sabe escolher, surge a dor e a infelicidade.

O sábio deve saber suportar a dor, visto que logo essa acabará ou até mesmo as que duram por um tempo maior são suportáveis.

A conquista do prazer e a supressão da dor se dão pela sabedoria que encontra um estado de satisfação interna.

A virtude subordinada ao prazer só pode ser alcançada pelos seguintes itens:

  • Inteligência – a prudência, o ponderamento que busca o verdadeiro prazer e evita a dor;
  • Raciocínio – reflete sobre os ponderamentos levantados para conhecer qual prazer é mais vantajoso, qual deve ser suportado, qual pode atribuir um prazer maior, etc. O prazer como forma de suprimir a dor é um bem absoluto, pois não pode ser acrescentado a ele nenhum maior ou novo prazer.
  • Autodomínio – evita o que é supérfluo, como bens materiais, cultura sofisticada e participação política;
  • Justiça – deve ser buscada pelos frutos que produz, pois foi estipulada para que não haja prejuízo entre os homens.

Enfim, todo empenho de Epicuro tinha como meta a felicidade dos homens.

Nos jardins (comunidade dos discípulos de Epicuro) reinava a alegria e a vida simples.

A amizade era o melhor dos sentimentos, pois proporcionava a correção das faltas uns dos outros, permitindo as suas correções.

Com isso, a moral epicurista é baseada na propagação de suas ações, pois ele não se restringiu apenas ao sentimento e ao prazer como normas de moralidade, mas foi muito além de sua própria teoria, sendo o exemplo vivo da doutrina que proferia.

Para Epicuro, o destemor do futuro e do pós-morte, a paz consigo mesmo por praticar sempre a justiça e a virtude, a amistosidade com todos, que gera segurança, as amizades com aqueles que temos empatia, as boas lembranças e… last but not least, o simples prazer de existir assim pode tornar a vida bem vivida, mesmo em circunstâncias adversas.

A felicidade durante o envelhecimento

Segundo Epicuro, podemos tornar a segunda metade da vida (envelhecimento) tão boa quanto a primeira metade (crescimento), ainda que com limitações cada vez maiores em forças físicas em capacidade de aprendizado.

No limite, é possível viver bem mesmo os últimos tempos de uma doença profressiva e fatal, sobretudo se considerarmos os recursos da medicina atual para eliminar a dor física extrema, tal como a que o filósofo do Jardim padeceu, ao morrer com pedras infectadas nos rins.

Fontes: Razão Inadequada, e textos de Breno Serson e de
João Francisco P. Cabral colaborador do Brasil Escola

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