Vamos compreender a respiração sob a ótica do Yoga e Vedanta, segundo a Glória Arieira
Olá a todos!
Como profissional de saúde e instrutora de yoga, é com grande alegria que trago hoje um tema fundamental para o nosso bem-estar físico e mental: a respiração.
No ocidente, muitas vezes vemos o ato de respirar apenas como uma função biológica automática. No entanto, nas tradições milenares do Vedanta e do Yoga, a respiração (Pranayama) é um pilar essencial para a saúde, a clareza mental e a conexão espiritual.
Recentemente, estive aprofundando meus estudos com a Glória Arieira, uma das maiores referências no estudo e ensino do Vedanta no Brasil, e sua perspectiva sobre a respiração é incrivelmente elucidativa.
Ela nos lembra que o Vedanta, como um sistema de conhecimento que nos ajuda a entender quem somos, nos convida a observar essa ação aparentemente simples com uma nova profundidade.
Respiração: um reflexo do estado mental
Primeiramente, Glória Arieira destaca que a forma como respiramos reflete diretamente o nosso estado interno. Pense comigo: quando estamos ansiosos, nossa respiração se torna curta e superficial.
Mas, em momentos de relaxamento e felicidade, ela é naturalmente mais profunda e fluida. Essa observação intuitiva é confirmada pelas escrituras védicas e iogues.
O Hatha Yoga Pradipika, um dos textos clássicos do Hatha Yoga, afirma que “enquanto a respiração (prana) está instável, a mente (citta) está instável; quando a respiração está calma, a mente está calma” (Hatha Yoga Pradipika, Cap. 2, Vers. 2).
Essa correlação é vital. Se a mente e a respiração estão intrinsecamente ligadas, ao trabalharmos conscientemente com a nossa respiração, podemos influenciar diretamente o nosso estado mental. Não é apenas uma teoria; é uma prática tangível para acalmar a mente e reduzir o estresse.
Pranayama: o controle da força vital
No Yoga, as técnicas de controle da respiração são chamadas de Pranayama. “Prana” significa “força vital” ou “energia vital”, e “yama” significa “controle” ou “expansão”. Portanto, Pranayama não é apenas sobre inspirar e expirar ar; é sobre direcionar e expandir nossa energia vital.
Glória Arieira ressalta ainda, a importância de uma respiração abdominal completa. Pois, muitas pessoas respiram predominantemente usando a parte superior do tórax, o que é ineficaz e pode aumentar a sensação de ansiedade.
Assim, a respiração abdominal, onde o diafragma se move para baixo, massageando os órgãos internos e permitindo uma troca gasosa mais eficiente, é fundamental.
Ela nos convida a observar, sem julgamento, nossa própria respiração. Desse modo, essa auto-observação é o primeiro passo para a mudança.
Através da prática regular de Pranayama, podemos treinar nosso corpo e mente para uma respiração mais consciente e benéfica. Técnicas como a Respiração Diafragmática (também conhecida como Respiração Abdominal ou Respiração do Bebê) são excelentes pontos de partida.
Respiração e busca pelo Autoconhecimento
No contexto do Vedanta, a respiração vai além de uma ferramenta para a saúde física e mental. Ela se torna um meio para o autoconhecimento. Glória Arieira enfatiza que, ao observarmos a respiração, estamos observando uma manifestação do “eu” em um nível mais sutil.
Através da meditação e da atenção plena à respiração, podemos gradualmente transcender as flutuações da mente e nos conectar com a nossa verdadeira natureza, que é paz e plenitude.
Nesse sentido, uma das grandes contribuições do Yoga e do Vedanta é nos lembrar que somos mais do que nosso corpo e nossa mente. Somos consciência.
E a respiração, sendo o elo entre o corpo e a mente, é uma ponte para essa consciência. Pois, como nos ensina o Bhagavad Gita, “o ser supremo, aquele que domina os seus sentidos e os seus pensamentos, não é afectado pelo prazer nem pela dor” (Bhagavad Gita, Cap. 2, Vers. 56), e a respiração controlada é uma ferramenta para alcançar esse domínio.
Prática para o dia a dia
Então, convido você a experimentar uma prática simples de respiração consciente. Reserve alguns minutos do seu dia para se sentar confortavelmente e apenas observar sua respiração. Não tente modificá-la, apenas sinta o ar entrando e saindo. Observe a sensação no seu abdômen, nas suas narinas. Se sua mente divagar, gentilmente traga sua atenção de volta para a respiração.
Ao fazer isso, você está não apenas oxigenando melhor seu corpo, mas também acalmando sua mente e se conectando com um aspecto mais profundo de si mesmo.
Além disso, essa prática, inspirada nos ensinamentos do Vedanta e do Yoga, é um presente que você pode se dar todos os dias.
Para aprofundar seu conhecimento, recomendo fortemente a obra “Luz sobre o Pranayama” de B.K.S. Iyengar, que oferece um guia detalhado sobre as diversas técnicas respiratórias do Yoga.
Por fim, lembre-se: a respiração está sempre conosco, disponível a qualquer momento para nos trazer de volta ao presente e nos lembrar da nossa força interior.
Com carinho,
Taís Queiroz / Enfermeira & Instrutora de Yoga
Referências Bibliográficas:
- Arieira, G. (2020). A respiração no Vedanta.
- Feuerstein, G. (2012). The Yoga Tradition: Its History, Philosophy and Practice. Hohm Press.
- Iyengar, B. K. S. (2015). Luz sobre o Pranayama: O guia definitivo sobre a arte da respiração no Yoga. Cultrix.
- Mallinson, J., & Singleton, M. (2017). Roots of Yoga. Penguin Classics.
- Mitchell, S. (Trad.). (2000). Bhagavad Gita: A new translation. Three Rivers Press.