Será possível manter alguma forma de “consciência” mesmo após a morte?
Uma investigação recente abriu caminho para uma análise mais profunda da consciência e sua persistência além dos eventos que geralmente marcam o fim da atividade cerebral.
Um estudo inovador trouxe à tona novas descobertas sobre a atividade cerebral de pacientes submetidos a reanimação cardiopulmonar prolongada durante paradas cardíacas.
Apesar de não exibirem sinais externos de consciência, esses pacientes apresentaram atividade cerebral e até mesmo relataram ter sonhos. Dado o baixo índice de sobrevivência após paradas cardíacas, estimado em apenas 10%, a realização dessa pesquisa representou um desafio singular para os cientistas.
Essas observações sobre atividade cerebral, juntamente com os relatos dos pacientes sobre suas experiências, agora podem oferecer uma compreensão mais sólida do que chamamos comumente de “experiências de quase-morte”.
Um experimento iniciado em 2015, no qual os pesquisadores equiparam indivíduos que sofreram paradas cardíacas com dispositivos de monitoramento, faz parte de um campo da medicina focado na ressuscitação. Utilizando técnicas como a reanimação cardiorrespiratória (RCP) e a desfibrilação.
A coleta de dados para um estudo estatisticamente significativo sobre paradas cardíacas foi um desafio. Isso, devido à baixa taxa de sobrevivência e à distribuição dos sobreviventes em um grande número de hospitais nos Estados Unidos.
Foram necessários três anos e a colaboração de 25 hospitais para reunir observações de 567 paradas cardíacas em ambiente hospitalar.
Em um estudo recente, publicado na revista Resuscitation, os cientistas abordaram experiências de quase-morte (EQM), enfocando o que os pacientes recordam após eventos de parada cardíaca.
A obtenção de dados foi ainda mais difícil devido à pequena quantidade de pacientes sobreviventes disponíveis para o estudo. Dos 53 identificados, apenas 28 puderam participar das avaliações e entrevistas.
Além disso, a questão da falta de oxigênio no cérebro durante as paradas cardíacas, que pode causar danos permanentes, destacou a importância de uma triagem detalhada antes da inclusão no estudo.
Entre os investigados, cerca de 40% relataram algum nível de consciência após reanimação cardiopulmonar.
Onze pessoas relataram ter memórias ou sensações durante os minutos de parada cardíaca. Seis indivíduos, aproximadamente 21,4% dos que responderam ao questionário, descreveram experiências transcendentes de lembrança da morte. Três tiveram experiências similares a sonhos e nenhum paciente exibiu sinais de estar de fato consciente, como se movimentar.
Somando-se a isso, os relatos pessoais dos pacientes que surgiram revelam uma interseção intrigante entre a psicologia e a neurociência. Levantando questões sobre a origem dessas experiências e o papel da atividade cerebral e processos subconscientes em condições extremas.
Nesse sentido, este estudo recente, liderado por Parnia, desafia as concepções convencionais sobre a atividade cerebral após uma parada cardíaca. Sugerindo que sinais de recuperação elétrica cerebral podem persistir por até uma hora durante a ressuscitação.
O estudo observou 28 indivíduos e, embora reconhecendo a amostragem limitada, destaca que a atividade cerebral monitorada pode incentivar futuras investigações científicas. De acordo com Parnia, a descoberta sugere que “[…] o cérebro pode mostrar sinais de recuperação elétrica muito tempo depois de iniciadas as manobras de RCP”, o que pode lançar luz sobre relatos comuns em experiências de quase-morte.
Assim, apesar das limitações da amostra, esses achados incentivam futuras pesquisas sobre o tema.
Em comparação com um ataque cardíaco, uma parada cardíaca interrompe completamente o fluxo sanguíneo, tornando medidas como a RCP vitais para a sobrevivência, apesar dos debates sobre sua eficácia.