Benefícios dos cogumelos mágicos à saúde mental e psicológica

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Cogumelos mágicos famosos pelos efeitos alucinógenos podem trazer benefícios à saúde mental e psicológica, indicam estudos

A droga psicodélica natural presente nos cogumelos mágicos pode ter benefícios medicinais e espirituais duradouros, de acordo com pesquisa da Johns Hopkins School of Medicine.

O principal alucinógeno dos cogumelos mágicos, a psilocibina, é famosa por levar as pessoas a estados espirituais transformadores.

Entretanto, em doses altas pode resultar também em “más viagens” (ou bad trips) caracterizadas por momentos de medo e pânico.

Assim, a ideia é fazer com que a dose seja na medida certa, o que os investigadores da Johns Hopkins relataram ter conseguido.

Nesse estudo, os cientistas conseguiram induzir com segurança os voluntários à experiências transcendentais.

Que promoveram benefícios psicológicos de longa duração e ajudaram as pessoas a encontrar a paz em suas vidas – sem os efeitos negativos.

“O ponto importante aqui é que encontramos o ponto certo onde podemos otimizar os efeitos positivos persistentes e evitar um pouco o medo e a ansiedade que pode ocorrer e ser bastante perturbador”, diz o principal autor Roland Griffiths, professor de biologia comportamental na Universidade Johns Hopkins .

Alguns dos benefícios psicológicos dos cogumelos mágicos relatados são: empatia, sentimento de união com o universo e menos julgamento
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Pesquisadores estudam se substância psicodélica presente em cogumelos alucinógenos pode trazer benefícios duradouros à saúde mental. (Foto: Caroline Veronez / Unsplash)

O estudo de Griffiths envolveu 18 adultos saudáveis, com média de 46 anos, que participaram de cinco sessões de 8 horas com a substância, a psilocibina – em diferentes doses – ou placebo.

Quase todos os voluntários eram graduados universitários, sendo que 78% participavam regularmente de atividades religiosas e todos estavam interessados ​​em uma experiência espiritual.

Para este experimento publicado em 2011, os participantes foram acomodados em um ambiente de sala de estar projetado para ser calmo, confortável e atrativo.

Então sob influência da droga psicodélica psilocibina, eles ouviram música clássica em fones de ouvido, usaram vendas e foram instruídos a “dirigir a atenção para seu interior.”

Cada participante foi acompanhado por dois outros membros da equipe: um “monitor” e um “assistente do monitor”, os quais tinham experiência prévia compreendendo e dando suporte à pessoas sob efeito de drogas alucinógenas.

Antes das sessões, os voluntários conversaram o suficiente com sua equipe para que se sentissem familiarizados e seguros.

A fim de garantir atenção médica imediata em caso de necessidade, os pesquisadores realizaram os experimentos no complexo hospitalar Hopkins, mas não foi necessário.

Como a experiência com substância alucinógena de cogumelos mágicos trouxe benefícios à saúde mental e psicológica dos voluntários?

Quatorze meses após o estudo, 94% dos que receberam a droga alucinógena disseram que o experimento foi uma das cinco melhores experiências mais importantes de suas vidas.

E 39% disseram que essa era a única experiência mais significativa de suas vidas.

No entanto, o mais surpreendente foi que os próprios participantes não foram os únicos a perceber os benefícios das compreensões que eles tiveram: os seus amigos, membros da família e colegas também relataram que a experiência com a psilocibina tinha tornado o participante mais calmo, mais feliz e mais amável.

Conforme os primeiros defensores do uso de psicodélicos, como antigos xamãs e o Timothy Leary: a experiência com psilocibina normalmente te envolve num sentido de unidade com o universo e com os outros.

Numa sensação de transcender o tempo, espaço e outras limitações, junto com um senso de santidade e sacralidade.

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Essas experiências são difíceis de explicar, mas muitos participantes do estudo disseram perceber de que eles entendiam melhor a si mesmos e aos outros também

Portanto, tinham mais compaixão e paciência.

Um dos participantes disse:

“Eu sinto que estou me relacionando melhor no meu casamento. Há mais empatia – uma maior compreensão das pessoas e entendimento de suas dificuldades e menos poder de julgamento. Menos julgamento sobre mim mesmo, também.”

Outro declarou:

“Tenho uma melhor interação com amigos, família, com conhecidos e estranhos… Meu uso de álcool diminuiu drasticamente.”

Para encontrar a dosagem ideal, em metade dos voluntários os pesquisadores administraram uma dose baixa e aumentaram ao longo do tempo (com sessões de placebo intercaladas aleatoriamente).

Já a outra metade começou com uma dose alta de psilocibina e seguiu para menor.

Aqueles que começaram com uma dose baixa descobriram que suas experiências tenderam a ficar melhor com o aumento da dose, provavelmente porque eles aprenderam o que esperar e como lidar com isso.

Mas as pessoas que começaram com doses altas eram mais propensas a sofrer de ansiedade e medo (embora esta sensação não durasse muito tempo e, por vezes foi resolvida pela euforia ou por uma sensação de transcendência).

“Se reduzir um pouco a dose, temos os mesmos efeitos positivos. As propriedades da experiência mística permanecem as mesmas, mas há uma queda de cinco vezes na ansiedade e no medo”, disse Griffiths.

Benefícios dos cogumelos mágicos e pesquisas polêmicas

Algumas pesquisas antigas com psicodélicos nos anos 60 já utilizaram doses iniciais altas das substâncias alucinógenas para tentar tratar a dependência.

“Alguns dos trabalhos tiveram a ideia de fazer uso do lado escuro dos compostos [psicodélicos]. Mas isso não funcionou”, afirma Griffiths.

Pelo contrário, outra pesquisa sobre vícios mostra que a coerção, humilhação e outras tentativas de produzir uma sensação de “impotência”, tendem a aumentar recaídas e abandono do tratamento, não a recuperação.

Griffiths e outros pesquisadores esperam seguir com o estudo das drogas psicodélicas no futuro.

E assim reconstruir a promessa que as primeiras pesquisas psicodélicas demonstraram, porém evitando a má reputação e exageros.

Como por exemplo, reivindicações de que o LSD era inofensivo e poderia dar início a paz mundial.

O que associou os psicodélicos às outras drogas, quando as pessoas começaram a usá-los para fins recreativos na década de 1960.

Toda a publicidade negativa resultante ajudou a encerrar a pesquisa psicodélica florescente na época.

O renascimento da pesquisa científica com drogas alucinógenas na saúde mental

Os cientistas estão pesquisando também se o mesmo tipo de experiência psicodélica pode ajudar a aliviar a ansiedade e o medo, em pacientes com câncer ou outras pessoas que estão perto da morte.

Como psicodélicos frequentemente tem como efeito uma sensação de ir além da vida e da morte, acredita-se que eles sejam especialmente propensos a ajudar os que enfrentam o fim da vida.

Além disso, os pesquisadores resgatam observações interessantes dos primeiros estudos com drogas alucinógenas como o LSD, a mescalina e a psilocibina.

E atualmente estudam se experiências psicodélicas podem ajudar no tratamento de vícios e outros problemas psicológicos como depressão e transtorno de estresse pós-traumático.

O estudo científico desta reportagem saiu na revista Psychopharmacology.

Fonte: Healthland

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