O uso regular de maconha pode exigir mais esforço cerebral para realizar tarefas motoras simples, de acordo com um novo estudo publicado na revista Human Brain Mapping.
A cannabis é a droga recreativa mais popular nos Estados Unidos, com o uso crescendo rapidamente, mas a ciência ainda não compreende totalmente os efeitos do uso regular de cannabis no cérebro.
Estudos anteriores demonstraram claramente que a cannabis pode prejudicar a atenção e a memória. Entetanto, seu impacto em funções como o controle motor é menos claro, com alguns estudos sugerindo prejuízo e outros sugerindo nenhum efeito.
Os mecanismos cerebrais subjacentes são ainda menos compreendidos.
O controle motor é a capacidade de planejar e executar movimentos, como andar, digitar ou tocar um instrumento.
Envolve a atividade de células nervosas no córtex motor, uma parte do cérebro que envia sinais para os músculos.
Essas células nervosas produzem padrões rítmicos de atividade elétrica, (oscilações neurais), que podem ser medidas por uma técnica: a magnetoencefalografia (MEG).
Ou seja, uma técnica de imagem não invasiva usada para medir os campos magnéticos produzidos pela atividade neural no cérebro.
Ela oferece alta resolução temporal, permitindo aos pesquisadores acompanhar a atividade cerebral em tempo real.
E desse modo, entender como diferentes áreas do cérebro se comunicam durante várias tarefas e processos cognitivos.
A equipe de pesquisa, liderada por Thomas W. Ward do Boys Town National Research Hospital em Nebraska, buscou entender melhor a função motora com o uso de maconha.
- Eles recrutaram 45 participantes com idades entre 20 e 59 anos e usaram a MEG para comparar as oscilações neurais de 18 usuários regulares de cannabis e 23 controles não usuários enquanto realizavam uma tarefa de sequenciamento motor.
- Para se qualificar como usuários de cannabis, os participantes deveriam consumir maconha pelo menos três vezes por semana por um mínimo de três anos.
- Para se qualificar como não usuários, os participantes deveriam abster-se de maconha e de qualquer outra droga ilícita, exceto por tentativas ocasionais no passado, e evitar o uso de drogas ilícitas nos últimos 3 meses.
- A tarefa de sequenciamento motor exigia que todos os participantes colocassem a mão em um teclado e tocassem uma sequência de três números, após verem uma dica na tela, com os dedos correspondentes da mão direita.
- Por exemplo, se o “1” estivesse visível na tela, os participantes precisavam tocar com o dedo indicador, e se o “2” aparecesse, eles deveriam tocar com o dedo médio.
Resultados
Os pesquisadores descobriram que ambos os grupos executaram a tarefa igualmente bem, sem diferenças no tempo de reação, precisão ou duração do movimento.
No entanto, eles também descobriram que os usuários de cannabis tinham oscilações neurais mais fortes na faixa de frequência beta (16-24 Hertz) no córtex motor primário e em várias outras regiões cerebrais relacionadas ao movimento.
Essas oscilações neurais aumentaram durante a fase de execução da tarefa, mas não durante a fase de planejamento.
Isso sugere que os usuários de cannabis precisavam de mais atividade neural para realizar a mesma tarefa que os não usuários.
Ward e colegas especularam que as oscilações beta mais fortes podem refletir um mecanismo compensatório que permite aos usuários de cannabis manterem um desempenho motor normal, apesar dos possíveis prejuízos causados pela cannabis.
Eles também sugeriram que as oscilações beta podem ter a influência dos níveis de um neurotransmissor chamado GABA. O qual é uma substância química que regula a atividade do córtex motor e pode ser afetada pela cannabis.
Conclusões dos pesquisadores:
“Nossos resultados demonstram que, embora os usuários regulares de cannabis consigam realizar a tarefa de sequenciamento motor atual no mesmo nível dos controles não usuários, os dois grupos são bastante diferentes neurologicamente.
Essas diferenças podem refletir processamento compensatório ou ser precursoras de déficits comportamentais que podem surgir no futuro.
Esses mecanismos compensatórios, embora adequados para essa tarefa de sequenciamento relativamente simples, podem se desintegrar em situações do mundo real onde é necessária uma maior complexidade no controle motor.”
O estudo tem algumas limitações, como não controlar a quantidade e o tipo de cannabis consumidos pelos usuários.
E além disso, utilizar uma tarefa motora relativamente simples que pode não capturar a complexidade do controle motor no mundo real.