Por que a fome influencia nossas emoções, pensamentos e consequentemente o nosso comportamento
A fome pode desencadear uma série de impactos significativos em nossa mente e a forma como tomamos decisões.
Isso de acordo com o artigo de Miriam Frankel e Matt Warren jornalistas científicos e autores do livro Are You Thinking Clearly?
Embora as dietas sejam amplamente promovidas para melhorar a saúde e bem-estar, estudos revelam que quem tenta emagrecer pode apresentar sintomas de depressão.
Um estudo realizado com quase 2.000 pessoas com sobrepeso e obesidade que queriam emagrecer descobriu que aquelas que realmente conseguiram fazê-lo tinham quase 80% mais probabilidade de apresentar sintomas de depressão do que aquelas que não buscaram perder peso.
Na verdade, pesquisas estão começando a mostrar que o jejum pode afetar negativamente tudo, desde as nossas emoções até a nossa cognição e capacidade de julgamento, pelo menos a curto prazo.
Nesse sentido, a fome tem o poder de mexer profundamente com nossas emoções e humor, tornando-nos mais pessimistas e inclinados a focar nos aspectos negativos. A raiva, irritabilidade e impulsividade são comuns quando estamos famintos.
E, como os jornalistas descreveram no livro recente deles sobre os fatores internos e externos que influenciam a forma como pensamos, todas essas coisas afetam, em última análise, a forma como refletimos e tomamos decisões.
Outro estudo, por exemplo, descobriu que o fornecimento de merenda escolar em escolas indianas melhorou o desempenho cognitivo dos alunos em 13% a 16%.
Ou seja, a fome afeta nossa cognição, prejudicando a atenção e a flexibilidade mental, levando-nos a tomar decisões mais simples e imediatas.
Além disso, também torna as pessoas mais suscetíveis a serem influenciadas por emoções negativas, o que pode distorcer o julgamento.
Já que as emoções têm uma influência profunda nos nossos pensamentos — especialmente quando não as compreendemos ou reconhecemos de verdade.
Isso porque é mais fácil regular nossas emoções quando temos consciência de onde elas vêm e como influenciam nossa cabeça e nossa tomada de decisões.
O mau humor muitas vezes nos torna mais pessimistas. Por exemplo, se você não está totalmente ciente de como está preocupado com um exame médico que fará em breve, as pesquisas mostram que você ficará mais avesso ao risco ao tomar decisões financeiras.
Mas o que isso tem a ver com a nossa alimentação (ou a falta dela)?
Bem, a fome parece ser um condutor importante de emoções negativas e do mau humor.
Em um estudo de 2022, a psicóloga Nienke Jonker e colegas da Universidade de Groningen, na Holanda, fizeram perguntas a 129 mulheres — cerca de metade das quais fizeram jejum por 14 horas — sobre o seu nível de fome, hábitos alimentares e humor.
A equipe descobriu que as mulheres famintas relatavam mais emoções negativas, incluindo maior tensão, raiva, depressão, fadiga e confusão. Elas também relataram sentir menos emoções positivas, como vigor.
“Não foram efeitos pequenos”, diz Jonker.
Na verdade, as mulheres famintas relataram, em média, sentirem duas vezes mais raiva do que aquelas que não estavam com fome.
A pesquisa sugere que a interpretação errônea da fome como um estado emocional negativo contribui para esses efeitos. Isso significa que podemos aprender a reinterpretar a sensação de fome, de forma semelhante à terapia cognitivo-comportamental, o que pode ajudar a reformular nossos pensamentos e sentimentos relacionados à comida.
Quando estamos com fome, provavelmente teremos dificuldades com tarefas cognitivas complexas, com nuances e com a concentração — e optaremos por usar nosso pensamento de forma mais simples, muitas vezes sendo submetidos a influências e preconceitos.
Ser irritável, impulsivo, punitivo e preso ao presente — especialmente quando não percebemos que esses sentimentos se devem simplesmente à fome — irá confundir ainda mais as nossas mentes.
Mas estar ciente disso pode ser extremamente útil. Na próxima vez que você estiver com raiva ou chateado, por exemplo, pode ser útil perguntar a si mesmo se você pode estar com… fome.
Se você entender de onde vêm suas emoções, será menos provável que seja manipulado por elas.
Embora a fome seja um sinal importante para nossa sobrevivência, seu impacto no pensamento é profundo.
Estar ciente desses efeitos pode ser útil para tomar decisões melhores e evitar ser manipulado por emoções negativas. Planejar antecipadamente as escolhas alimentares também é uma estratégia eficaz.
Em última análise, ao optar por uma dieta rigorosa de baixa caloria, é importante considerar o preço emocional e cognitivo da perda de peso, especialmente se já se tem um peso saudável.
A fome pode ter um custo substancial em nosso bem-estar mental e na capacidade de tomar decisões informadas.
Fonte: BBC